Por Wanglézio Braga
Na zona rural de Senador Guiomard, a produtora Inês de Souza, de 47 anos, vive o drama de muitos agricultores acreanos: colheita farta, mas sem mercado. Com uma produção de quatro toneladas de mamão T2 — frutas que chegam a ultrapassar os 4 kg e impressionam pelo tamanho e sabor adocicado —, ela amarga o desperdício de parte da safra por falta de compradores. “Dia desses levamos 16 caixas pro Ceasa e ficaram por lá. Está estragando tudo”, lamenta.
Com mais de dez hectares cultivados na Colônia Palmeiras, a agricultora, filha de família tradicional do campo, conta que o mamão leva cerca de seis meses entre a semeadura e a colheita. Embora a variedade T2 não tenha explicações científicas consolidadas para o tamanho dos frutos, ela acredita que o segredo está na combinação da terra com o manejo cuidadoso. “A gente precisa limpar, zelar. A fruta cresce se for bem cuidada”, afirma.
Hoje, o quilo do mamão custa R$ 5, um valor que mal cobre os custos de produção e transporte. A produtora também trabalha com banana, mamão havaí e abacate, mas é com o mamão gigante que esperava ganhar mercado. A burocracia, no entanto, tem dificultado até a entrega ao Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), uma das poucas alternativas de escoamento da produção familiar.

ECONOMISTA DÁ DICAS
Nossa reportagem procurou o economista Lúcio Morais que, de pronto, deu dicas valiosas. “O caso da dona Inês revela o contraste entre o potencial da agricultura familiar no Acre e a ausência de políticas eficazes de comercialização. Enquanto mamões gigantes apodrecem no campo, consumidores na cidade continuam pagando caro por frutas muitas vezes importadas. Falta ponte entre quem produz com excelência e quem precisa de alimentos de qualidade”, avalia o economista Lúcio Silva.
E o que fazer? O especialista sugere a criação de uma cooperativa, ou se associar a uma regional. “Uma cooperativa com produtores da região poderia centralizar a venda, o transporte e até a negociação com atacadistas ou programas governamentais. Isso permite ganho de escala, divisão de custos logísticos e maior poder de barganha”, comentou.
Ele sugere ainda “ao invés de vender o mamão in natura, é possível transformá-lo em polpa congelada, doce em pasta ou cristalizado, geleias e compotas. “Esses produtos têm maior prazo de validade, maior valor agregado e podem ser vendidos em feiras, comércios locais e até em programas institucionais, como o PNAE (alimentação escolar).
Por fim, criar canais de venda direta (feiras, redes sociais, delivery rural). “Com ajuda de jovens da família ou de parcerias locais, é possível usar redes sociais para fazer vendas diretas na cidade. Feiras urbanas, entregas programadas e venda por aplicativos são alternativas cada vez mais viáveis, mesmo em zonas rurais, concluiu.