Por Wanglézio Braga
Depois de dois dias e meio de viagem sem pressa, explorando as cidades de três estados com olhos atentos e espírito curioso, o médico veterinário Arlan Mesquita, que atua desde 2006 na pecuária do Mato Grosso do Sul, declara-se oficialmente “cantado” pelo Acre. O encantamento não é apenas pela hospitalidade ou pela paisagem verde exuberante, mas pelas promissoras oportunidades que, segundo ele, o estado oferece para um novo ciclo de crescimento do agronegócio.
Arlan foi incentivado a conhecer o Acre por meio de um colega de faculdade que apresentou um estagiário da Universidade Federal do Acre (UFAC). “Ele sempre falava que o Acre tinha pasto bom, chuva boa, solo bom… aquilo ficou na minha cabeça. Quando surgiu a chance, encarei. Não me arrependo nem por um segundo”, conta ele, empolgado com o que viu e viveu em poucas horas no estado.
Para o veterinário, o que mais marca o Acre é o seu potencial ainda pouco explorado. “Aqui tem solo fértil, água em abundância, bezerro bom, e o DNA da raça Nelore é muito forte. Mas o mais impressionante é a oportunidade de crescimento. Com mais silos, máquinas, confinamento, grãos para suínos e aves, e até esmagadoras de soja e milho, esse estado pode explodir em desenvolvimento nos próximos anos”, prevê.
O Acre já é referência na produção de bezerros — e isso, segundo Arlan, é só o começo. “O meu estado, o Mato Grosso do Sul, vem buscar bezerro aqui pagando R$ 1.800 por cabeça. Agora, se esse boi for terminado aqui, vendido a R$ 300 a arroba de 20, imagina o dinheiro circulando? É imposto, é emprego, é salário aquecido. O agro gera riqueza”, defendeu.

Além disso, ele destaca o potencial logístico do estado, com a possibilidade de escoamento da produção via Bolívia e Peru. “Isso atrai investimento. É uma rota promissora. Poucos lugares no Brasil têm essa vantagem geográfica”, analisa visando o Porto de Chankay.
Mas nem tudo são flores. Arlan acredita que o Acre ainda esbarra em um certo tradicionalismo que precisa ser revisto. “Os produtores de outras regiões estão desmamando bezerros mais pesados, explorando vaca gorda com menos terra e menos pasto. Isso aqui pode demorar a acontecer se não houver troca de experiências, capacitação e incentivo à tecnologia”, citou.
Outro gargalo, segundo ele, é a falta de articulação entre as entidades representativas do setor. “A federação da pecuária, as associações, as indústrias e o governo precisam estar mais alinhados. Falta política pública, infraestrutura, incentivo fiscal. E, principalmente, falta representatividade. O agro precisa parar de fugir da política e começar a formar líderes com foco no setor”, reflete.
Em tom de alerta e esperança, Arlan Mesquita finaliza: “O agronegócio brasileiro é autossustentável, paga imposto, gera empregos e traz divisas para o país. Mas estamos pagando muito caro para produzir. O Acre tem a chance de fazer diferente. E fazer melhor”, concluiu.