Neste 19 de abril, quando o país celebra o Dia Nacional dos Povos Indígenas, é impossível não voltar os olhos – e o coração – para o que se tornou o outrora pulsante Espaço Kaxinawá, no centro de Rio Branco. O que já foi palco de encontros, rituais, danças, feiras culturais e celebrações abertas à diversidade, hoje se transformou em um local silencioso, de portas parcialmente fechadas e uso bastante restrito.
Desde 2023, quando o governador Gladson Cameli nomeou Francisca Arara, do povo Arara, como titular da então-criada Secretaria Extraordinária dos Povos Indígenas do Acre, o espaço passou a abrigar a sede da pasta. Uma decisão que parecia promissora à primeira vista — afinal, colocar uma liderança indígena à frente de uma secretaria voltada ao seu povo é uma conquista histórica. No entanto, o simbolismo dessa vitória institucional acabou por sufocar um espaço que deveria ser justamente o oposto: livre, plural, compartilhado.
Em reportagem recente do Portal Acre Mais, um grupo de jovens Huni Kuin relatou com tristeza que o Kaxinawá já não lhes pertence. A espontaneidade dos encontros sumiu. O ambiente de trocas, de convivência entre povos, brancos e indígenas, ribeirinhos e urbanos, foi substituído por uma estrutura burocrática. Aquilo que era um território simbólico da diversidade indígena virou uma repartição com acesso limitado, onde apenas grupos próximos à gestão atual ainda frequentam.
Não se trata aqui de deslegitimar a secretaria. Muito pelo contrário. Ela é fundamental, urgente e necessária em um estado com forte presença de povos originários. O que se questiona é a ocupação de um espaço que, por essência, não deveria ser institucionalizado. O Kaxinawá nasceu como lugar de resistência, celebração e conexão. Não pode, e não deve, ser reduzido a um prédio administrativo.
Hoje, em vez de estarem no Kaxinawá, muitos jovens indígenas recorrem a praças da cidade para conversar, trocar saberes e vender seus artesanatos. É uma cena bonita, sim, mas também um retrato de um vazio deixado por uma política que, mesmo bem-intencionada, falhou ao não ouvir o coletivo. A memória do que era vivido ali, de forma comunitária e viva, está sendo apagada aos poucos — e isso não pode passar despercebido.
Neste 19 de abril, fica o apelo: que se repense o uso do Kaxinawá. Que se devolva ao povo o que é do povo. Que se abra espaço, literalmente, para o convívio, a expressão e a cultura. O Acre, que tem orgulho de suas raízes indígenas, não pode permitir que a burocracia mate a alma de um lugar que nasceu para unir e não dividir.
Porque mais do que prédios e pastas, o que os povos originários pedem — e merecem — é respeito, escuta e pertencimento.