Por Wanglézio Braga
Em uma chácara de apenas seis hectares, no coração de Senador Guiomard, o produtor Roberto Soares mantém viva uma tradição que desafia as oscilações do mercado e a burocracia estatal. Há sete anos no ramo de laticínios, ele e a esposa tocam uma produção familiar que, semanalmente, transforma cerca de 800 litros de leite em queijo, vendendo diretamente para pizzarias e moradores da região.
A entrada de Roberto nesse mercado não foi por acaso. “Eu já trabalhava com isso, passei uns dois anos no Laticínio. Quando saí, decidi trabalhar para mim mesmo”, conta. Mas a produção de queijo não é a única fonte de renda da Chácara Ouro Verde. “Temos horta, fazemos manteiga, criamos porcos e galinhas. É o agro todinho”, brinca o produtor, que acredita na diversificação como um pilar da agricultura familiar.
O Mercado e a Resistência
Os desafios, como em qualquer atividade agrícola, sempre existiram. Em alguns momentos, o excesso de concorrência quase o fez desistir. “Já teve uma época ruim pra caramba, porque o pessoal de Rondônia entregava muito queijo aqui. Eu pensei até em parar, mas agora deu uma melhorada. Graças a Deus, estamos sobrevivendo de boa”, explica.
Para ele, o segredo da resistência está justamente na autonomia e na variedade de produtos. “Se um não dá certo, a gente tem outro. Se o queijo não vai bem, a gente vende porco, galinha, verdura. Assim a gente se mantém”, afirma.

A luta pelo Selo e a falta de apoio
Apesar da estabilidade aparente, há um obstáculo que impede a expansão do negócio: a burocracia para conseguir o selo de inspeção. ” É complicado porque precisa de muita estrutura para trabalhar”, diz Roberto, evidenciando um problema comum entre pequenos produtores que esbarram nas exigências sanitárias e de infraestrutura.
Além disso, o apoio governamental, segundo ele, é quase inexistente. “Recebemos pouca ajuda do governo, tanto municipal quanto estadual. O municipal, então, é pior ainda”, critica.
Queijo artesanal que movimenta a economia local
Mesmo sem apoio externo, a produção segue firme, abastecendo exclusivamente o mercado de Senador Guiomard. “Levo 80 quilos de queijo toda semana e vendo tudo”, garante Roberto. Grande parte dos compradores são pizzarias da região, que preferem o queijo artesanal pelo sabor diferenciado e pela proximidade do fornecedor.
Quem prova os queijos, aprova! “Pra mim é um dos melhores queijos da região. Sempre que podemos, compramos lá pra casa. Além de ser de qualidade, é um queijo fresco, saboroso (…) A gente se alimenta e ajuda o pequeno produtor que tanto rala para conseguir sobreviver. Acho que essa é a ideia principal desse tipo de venda”, diz Ana Maria Oliveira, que virou consumidora assídua.
Em meio aos desafios e incertezas, a história de Roberto Soares é um retrato da resiliência dos pequenos produtores. Sem grandes estruturas ou incentivos governamentais, ele segue transformando leite em sustento, mostrando que, no campo, sobreviver é uma arte que exige muito mais que força de vontade—requer estratégia, diversificação e uma boa dose de persistência.