Por Wanglézio Braga
Foi inaugurado na manhã deste sábado (28), em Mâncio Lima, no interior do Acre, o tão aguardado Complexo Industrial do Café do Juruá, o maior da região norte do Brasil. Com investimento de R$ 10 milhões, fruto de parceria entre o Governo Federal, por meio da ABDI, e a CooperCafé, o espaço impressiona não só pela estrutura física, mas pelo potencial de transformar a vida de milhares de produtores da região. A planta tem capacidade para beneficiar até 21 mil sacas de café por safra e é movida por energia 100% solar, com 356 painéis gerando 21.500 kWh por mês.
Os agricultores locais poderão realizar no próprio complexo todo o processo de secagem, descascamento, classificação e rebeneficiamento dos grãos, agregando valor ao produto e garantindo acesso a mercados mais exigentes. Tudo isso em uma área de 1.640 m² equipada com secadores, descascadoras e classificadoras de última geração. ““Hoje estamos vivendo a concretização de um sonho”, afirmou Raimunda Antunes Silva, uma das primeiras produtoras associadas da CooperCafé.

Mais de duas mil pessoas já estão envolvidas diretamente na cadeia produtiva na região, que gerou dois mil empregos entre diretos e indiretos. Segundo um levantamento recente da ABDI, os cooperados tiveram aumento de renda, com média mensal saltando de R$ 2.409 para R$ 3.166. A arrecadação de Mâncio Lima cresceu 44,5% e o número de empregos formais subiu 15,5%, comprovando o impacto econômico positivo na cidade.
A sustentabilidade também é destaque no complexo: o café processado vem de áreas degradadas, sem desmatamento, e a indústria reutiliza água da chuva e queima lenha certificada. Há um esforço para empoderar a agricultura familiar e envolver as mulheres na gestão das propriedades. A meta é mostrar que desenvolvimento e responsabilidade ambiental podem andar lado a lado. “Todo mundo cobra meio ambiente, mas não investe. O café restaura a terra e o futuro das famílias”, afirmou o prefeito de Mâncio Lima, Zé Luiz.

No entorno do complexo, só na região do Juruá e parte do Amazonas, são mais de 6,5 milhões de pés de café plantados por pequenos e médios produtores. A estimativa é de que o complexo gere até R$ 40 milhões em faturamento por ano, dependendo da cotação do café. A produção inclui desde o café commodity até o especial, com qualidade suficiente para disputar espaço em feiras internacionais. “”Isso aqui é tecnologia e sustentabilidade. Nossa primícia é fazer desse lugar um modelo de produção normal e de cafés especiais. Temos um parque totalmente revolucionário para esses ramos”, disse Jonas Lima, presidente da CooperCafé.

A segunda fase do projeto já está em fase de estruturação e levará o modelo para o Baixo Acre, em parceria com a Cooperacre, que representa cerca de 3 mil famílias. A ideia é transformar o café em nova força econômica do Acre, levando dignidade e renda para quem vive no campo. Como disseram os próprios produtores durante o evento: agora, o café tem destino certo — e é valorizado desde a roça até a embalagem. “Estamos vivendo um momento forte de virada. O Brasil inteiro vai olhar para o Acre com outros olhos depois disso”, disse Perpétua Almeida, presidente da ABDI.
