Por Wanglézio Braga
A sucessão familiar no campo brasileiro enfrenta dois grandes entraves que ameaçam a permanência das novas gerações nas propriedades rurais. Primeiro, há o desafio da motivação e da preparação dos herdeiros. Além disso, fatores como a escolaridade dos filhos, a falta de planejamento da transição e a escassez de políticas que envolvam o jovem e o preparo técnico agronômico agravam o problema.

Em Acrelândia, no coração da cafeicultura acreana, a Família Lara é exemplo vivo de que o campo pode, sim, ser o caminho do sucesso através da sucessão familiar. Enquanto muitos jovens deixam a zona rural em busca da cidade, os Lara seguem o rumo contrário: permanecem firmes na terra, com os pés no chão e os olhos no futuro. O patriarca Vanderlei Lara ensinou desde cedo que o trabalho, a justiça e o esforço são os verdadeiros legados que se passam de pai para filhos. Ele aposta na nova geração para comandar a empresa no futuro com isso tem preparado a filha na lida.
Jackeline Lara, estudante de Agronomia pela UFAC, conta que o amor pelo campo nasceu do exemplo dentro de casa. Ela já é a aposta da família na sucesso do comando. Além dela, irmão também tem seguido o caminho no plantio e cuidado com a lavoura de café. “O pai sempre foi um exemplo pra gente. Ele nunca deu nada de mão beijada, sempre incentivou a correr atrás, e isso fez a gente pegar gosto pelo que faz”, relata. Hoje, ela estuda para aprimorar as técnicas de produção e aplicar o conhecimento dentro da própria propriedade da família. Além disso, já tem alguma lavoura à sua disposição para ‘treino’.

UMA REALIDADE
Para ocorrer o êxodo rural os jovens do campo esbarram em pouca renda, alta carga de trabalho, acesso restrito a crédito, tecnologias e infraestrutura, e percebem a vida urbana como alternativa mais atraente. Destino contrário da nossa entrevistada. Com 30 colegas no curso de Agronomia — muitos filhos de produtores —, Jackeline acredita que uma nova geração está se formando para garantir que o campo continue forte e produtivo.
Para ela, o segredo da permanência no campo está na valorização das raízes. “Muita gente cresce ouvindo que a caneta é mais leve que a enxada, mas eu acho que o valor está em reconhecer a importância do trabalho no café, no nosso caso. Foi assim que meu pai nos ensinou, e é o que quero passar para o meu filho também”, afirma.

Jackeline ao lado do terreno preparado para mais uma lavoura de café (Foto: Wanglézio Braga)
Sobrecargas como essas empurram os filhos para longe da terra, ou ainda em imóveis onde não se sente segurança ou perspectiva de futuro. Qualquer plano de sucessão precisa envolver a formação técnica, a melhoria da gestão da propriedade, preparo legal e financeiro, e sobretudo incentivos para que o jovem veja no campo uma oportunidade de vida — e não um fardo a deixar.
