Por Wanglézio Braga
A chamada “Pauta do Bezerro” segue sendo tema central nas rodas de conversa dos pecuaristas acreanos. Depois da fala incisiva de Geraldo Pereira, que sugeriu uma suposta manobra para derrubar os preços do bezerro no estado, foi a vez pecuarista e produtor rural Claudélio Bomfim, de Feijó, dar seu ponto de vista sobre o tema que movimenta o agronegócio local.
Em um pronunciamento feito hoje (17), num grupo, Bomfim apontou a necessidade urgente de um equilíbrio nesse processo para que a cadeia produtiva como um todo — pequenos, médios e grandes produtores, frigoríficos e o próprio Estado — consiga se beneficiar de forma justa e sustentável.
“Estamos vivendo uma verdadeira sinuca de bico. A pauta do ICMS da saída do bezerro do Acre influencia diretamente no nosso mercado. Quando a pauta está alta, compradores de fora desistem de buscar o bezerro aqui, o que acaba represando o produto no estado e derrubando seu valor”, explicou o pecuarista.
Segundo ele, essa retenção pode parecer prejudicial no curto prazo, mas garante a permanência da matéria-prima para os frigoríficos locais. E esse ponto, segundo Claudélio, é crucial para a economia acreana. “Se o bezerro todo for embora, com facilidade, como ficam os frigoríficos? Eles precisam do boi para manter suas atividades. E quando um boi é abatido aqui, gera emprego, movimenta a economia e gera mais arrecadação de impostos do que a simples saída do bezerro”, disse.

Cadeia complexa, decisões difíceis
A avaliação do pecuarista reflete a complexidade da cadeia produtiva da pecuária. Claudélio, que atua em todo o ciclo — da cria à engorda —, afirma que tem optado por reter parte dos seus bezerros, acreditando na importância de manter o gado no estado para fortalecer o setor industrial. “Quando você vende uma boiada pronta para o abate, o impacto econômico é outro. A geração de emprego é direta, como está acontecendo com a planta frigorífica em Tarauacá, que deve empregar cerca de 300 pessoas”.
A presença de novos frigoríficos em municípios como Tarauacá e Senador Guiomard é vista por ele como uma virada de chave para o Acre. Antes dominado por poucas plantas, como JBS e Frigordo, o estado começa a diversificar sua indústria de abate e a ampliar as possibilidades de exportação.
Pauta como instrumento de controle
Claudélio também reconhece que a pauta do ICMS funciona como um instrumento de controle usado pelo governo. “Se tiver muito bezerro saindo, o governo aumenta a pauta. Se estiver represando demais aqui dentro, diminui. É uma forma de regular o fluxo e tentar equilibrar a balança.”
Apesar disso, ele pondera que o futuro ainda é incerto. “Só o tempo dirá qual o melhor caminho. Cada produtor precisa fazer seu planejamento, entender sua realidade e agir conforme sua estrutura permite. Mas, sem dúvida, precisamos de políticas que olhem para o conjunto, que equilibrem o jogo entre a criação, a industrialização e a arrecadação”, conclui.