Por Wanglézio Braga
A produção de ovos no Acre reflete o potencial e as dificuldades enfrentadas por pequenos empreendedores que tentam competir em um mercado dominado por grandes produtores. Um exemplo emblemático vem de um pequeno produtor de Rio Branco, Messias Fiesca que, após 15 anos como vendedor de ovos, decidiu investir em sua própria granja há cerca de um ano. Apesar do esforço, a realidade mostra um setor repleto de desafios estruturais e falta de incentivo.
Com uma produção diária de apenas uma a uma caixa e meia de ovos caipiras, o produtor abastece mercados municipais da capital acreana. Apesar da alta procura por produtos mais naturais, ele enfrenta grande dificuldade para competir com os ovos industriais, brancos e vermelhos, que dominam o mercado devido à produção em escala e preços mais baixos.
O principal obstáculo, segundo ele, é o custo elevado dos insumos, como milho, soja e farelo de soja, que muitas das vezes são importados de outros estados. Além disso, o acesso a crédito e apoio técnico é limitado, com o pouco incentivo direcionado majoritariamente aos grandes produtores. “Para quem já tem dinheiro, dinheiro gera dinheiro. Para a gente, pequeno, não tem apoio. Mas vamos levando”, desabafa Messias.
Outro entrave significativo é a burocracia, que torna inviável expandir negócios ou alcançar mercados mais estruturados, como os grandes supermercados. “Meu sonho era vender numa rede muito famosa da cidade, com aquele ovo embaladinho, bonito. Mas é uma burocracia enorme. Documentação, exigências no IDAF, tudo muito difícil”, disse.
Senhor Messias Fiesca sente na pele a falta de incentivo na área: Foto/ Wanglézio Braga
Apesar das dificuldades, o produtor tem planos de reinvestir na granja, ainda que com reservas. Ele está colocando à venda um imóvel para levantar recursos e ampliar a produção. No entanto, o pessimismo sobre o futuro do setor persiste, especialmente diante da desconfiança em relação aos recentes anúncios de investimentos públicos no estado. “Anunciaram milhões de reais para a produção, mas isso não chega na gente. É uma burocracia tão grande que a gente nem vê esse dinheiro”, falou.
A fala do pequeno produtor reflete uma crítica contundente à falta de políticas inclusivas e acessíveis para os pequenos empreendedores rurais, que, apesar de serem essenciais para a diversificação da economia local, acabam sendo deixados à margem.
Para 2025, Messias acredita que o Acre precisa priorizar a produção local para atender à crescente demanda da população e gerar riqueza para o estado. Contudo, ele enfatiza que isso só será possível com a atuação efetiva do setor público e um sistema menos burocrático, capaz de apoiar quem realmente precisa.
Em um estado com enorme potencial agrícola, histórias como a deste pequeno produtor demonstram como a falta de estrutura e incentivo pode travar o crescimento e desanima quem busca investir em uma economia mais forte e sustentável para o Acre.