Por Wanglézio Braga
O turismo acreano pode viver um momento delicado após a denúncia de abuso sexual feita por uma turista chilena contra um líder indígena da Aldeia São Francisco, em Feijó. O caso, que ganhou repercussão nacional, tem gerado constrangimento entre profissionais do setor turístico e provocado críticas ao silêncio das lideranças indígenas e das instituições ligadas ao turismo étnico-cultural no estado. Para o guia turístico Tássio Fúria, que se manifestou nas redes sociais neste final de semana, a ausência de posicionamentos públicos só contribui para a desconfiança e o descrédito do turismo local.
“Não vou mandar cliente minha para correr risco de estupro”, disparou Tássio, reforçando que é preciso que os responsáveis venham a público explicar o que está sendo feito para garantir segurança a quem busca vivências em aldeias. Segundo ele, é incoerente continuar vendendo esse tipo de experiência turística sem qualquer medida preventiva ou resposta clara sobre o ocorrido. “O silêncio só reforça preconceitos e afasta visitantes”, alertou.

“Não recomendo aldeias até que haja segurança”, diz guia acreano após denúncia – Foto: Arquivo
A denúncia foi feita pela chilena Loreto Belén, que relatou ter sofrido ao menos três tipos de abusos durante a estadia na aldeia entre maio e junho deste ano. O acusado é Isaka Ruy Huni Kuî, conhecido no meio por liderar experiências de turismo espiritual com o uso de medicinas tradicionais. O relato gerou indignação nas redes e acendeu o alerta entre guias, operadores e turistas sobre a segurança em vivências indígenas no Acre.
Com o setor turístico já fragilizado economicamente, a falta de respostas institucionais pode agravar ainda mais a crise. Tássio teme que a imagem do estado — que vinha se consolidando como destino de experiências culturais e espirituais — seja duramente impactada. “Quando começarem a sentir no bolso, talvez comecem a se manifestar. Mas pode ser tarde demais”, concluiu o guia Tássio.