Fé e a travessura: tradição de ‘roubar galinha’ na Semana Santa marcou gerações no Acre

Por Wanglézio Braga/ Foto: Ilustração Youtube

Pouca gente sabe, mas uma tradição popular que atravessou décadas no Brasil rural, especialmente durante o período da Semana Santa, também teve raízes profundas no interior do Acre. Trata-se do costume de “roubar galinha” — uma prática cultural antiga, que unia religiosidade, folclore e celebração comunitária. Embora quase extinta no estado, ela ainda vive na memória de muitos moradores, como símbolo de um tempo em que a partilha e a convivência eram mais fortes que as cercas.

Originada em comunidades rurais do Norte e do Nordeste brasileiro, a tradição acontecia geralmente na madrugada da Sexta-feira Santa para o Sábado de Aleluia. Grupos de jovens percorriam ramais e povoados para “roubar” galinhas das propriedades vizinhas. Apesar do nome sugestivo, o ato não tinha caráter criminoso: era simbólico, consentido e carregado de significado social.

“Meus pais contavam que o dono da galinha muitas vezes já sabia e deixava tudo pronto. Depois, era aquela festa: arroz, galinha cozida, farofa, todo mundo junto”, lembra Seu Raimundo Farias, 72 anos, morador antigo da região de Brasiléia.

Para os católicos, a prática representava o encerramento do período de jejum e penitência da Quaresma. Após dias de silêncio e abstenções, o banquete coletivo marcava a chegada da alegria pascal. Em alguns lugares, as refeições com as galinhas “furtadas” vinham acompanhadas de rezas, cantorias e partilha com toda a comunidade.

No Acre, essa tradição era mais comum até as décadas de 1980 e 1990, principalmente em municípios como Tarauacá, Brasiléia, Feijó, Sena Madureira, Cruzeiro do Sul, Xapuri, Assis Brasil, Sena Madureira e Rio Branco. Com o tempo, no entanto, o avanço da urbanização, a modernização dos hábitos alimentares, as mudanças culturais e o endurecimento das leis sobre propriedade e bem-estar animal levaram ao desaparecimento quase completo da prática.

“Hoje em dia, com tanta vigilância, câmeras e cercas, uma prática dessas não teria mais lugar. Mas, para quem viveu, era uma coisa engraçada. Tinha respeito, tinha valor”, acrescenta Avelino Soares, de 65 anos.

Atualmente, o “roubo da galinha” sobrevive apenas como memória afetiva — histórias contadas por avós e pais às novas gerações, com um misto de saudosismo e curiosidade. Embora não mais praticada, a tradição carrega um valor simbólico que revela muito sobre as relações humanas em tempos mais simples. Hoje, tal prática é considera crime e quem for pego pode ter sérios problemas na justiça.

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