Por Wanglézio Braga/ Foto: Arquivo Pessoal
No último final de semana, o Distrito de Extrema, em Porto Velho, realizou a Festa da Colheita da Castanha. Na ocasião, os participantes escolheram Érica Martinelli como Rainha da Castanha. E a coroa não poderia ter um destino mais certeiro. Érica Martinelli, filha do extrativismo, com apenas 19 anos soube representar a tradição local.
Ela carrega no sangue a tradição do setor que sustenta mais de 60 mil famílias na Amazônia. Seu pai, um comerciante de castanha, construiu seu negócio a partir de um simples barracão de madeira, que hoje se tornou um empreendimento de alvenaria estruturado, e referência naquela região. A jovem acompanhou de perto cada sacola costurada, cada lote negociado e cada noite sem sono do pai para manter a empresa viva.
“Eu acompanhei tudo desde pequena. Meu pai empregou muitas pessoas, deu sustento a quem não tinha oportunidade no mercado formal. E a castanha possibilitou a minha própria educação”, declarou em entrevista exclusiva ao Portal Acre Mais.

Outras duas concorrentes tentaram o título/ Foto: Arquivo Pessoal
Um título que é muito mais que um símbolo
A vitória no concurso não foi planejada. Érica decidiu participar na véspera, pegou um ônibus de Rio Branco para Extrema e correu contra o tempo para conseguir vestido, cabelo e maquiagem. “Foi uma loucura, mas tudo deu certo. Eu queria essa coroa para honrar minha família e mostrar que ser Rainha da Castanha não é apenas uma questão de beleza, mas também de conhecimento e representatividade”, disse.
Para ela, sua missão vai além de ostentar uma faixa. “A Rainha não é só uma moça bonita que desfila por aí. Eu quero falar sobre a castanha, sobre o impacto econômico, sobre os milhares que vivem disso”, enfatizou.

A castanha como motor da economia
A castanha-do-Brasil é um dos produtos mais valiosos da região Norte, movimentando indústrias alimentícias, de cosméticos e exportação internacional. Érica cresceu vendo o pai fechar negócios com empresas peruanas e enviar castanha em natura para indústrias de beleza. “Muita gente não tem noção, mas aquele creme de castanha que você compra no shopping pode ter vindo de uma comunidade ribeirinha da nossa região”, cita.
Hoje, sua própria formação universitária é financiada por esse setor. Estagiando em uma clínica de estética, ela se prepara para um futuro na Biomedicina, sem nunca esquecer suas origens. “Se não fosse a castanha, eu não estaria aqui. Esse setor muda vidas, inclusive a minha”, acrescenta.
O futuro da Rainha da Castanha
Agora, Erica quer usar sua visibilidade para levar adiante o legado da castanha e incentivar mais políticas de incentivo ao setor. “A gente precisa valorizar mais essa cadeia produtiva. Sem os quebradores de castanha, os comerciantes, os caminhoneiros, muita gente perderia seu sustento”, concluiu.