Por Wanglézio Braga
A maior cooperativa agroextrativista do mundo pode estar sendo boicotada dentro do próprio Acre. É o que pondera Cássio Almada, diretor da Cooperacre, que, durante uma reunião nesta terça-feira (18) na Assembleia Legislativa do Acre (Aleac), apontou falta de apoio por parte de secretarias estaduais na compra de produtos da agricultura familiar em especial àquelas que produzem no Acre.
“A comercialização para merenda escolar representa 40% da nossa venda. Em 2024, compramos 650 toneladas de frutas. Apenas nos dois primeiros meses de 2025, já adquirimos mais de um terço desse total. Mas estamos enfrentando limitações estruturais e, pior, uma falta de compromisso do governo em garantir a compra da produção local”, afirmou Almada.
Segundo ele, a Cooperacre, que adquire cerca de 1.100 toneladas de frutas por mês, tem investido pesado na expansão de sua capacidade. Atualmente, uma nova planta industrial está em construção, com um aporte de R$ 40 milhões, o que permitirá um salto de mil para 25 mil toneladas processadas. No entanto, a ausência de apoio governamental ameaça desestabilizar toda a cadeia produtiva.
“Temos um edital, o Comprac, que prioriza as compras governamentais, mas não vejo envolvimento de todas as secretarias ajudando nesse processo. Eu vejo isso como um boicote ao não priorizar a indústria local. Enquanto isso, nossos concorrentes estão adquirindo polpas de frutas de fora, enquanto os produtores do Acre sofrem sem ter para quem vender”, denunciou o diretor.
O alerta de Almada foi reforçado por produtores de Capixaba e Senador Guiomard, que participaram da reunião para cobrar uma solução urgente. O temor é que a suspensão de compras pelo governo desmotive a produção rural, prejudicando milhares de famílias que dependem da comercialização para sobreviver.
A crise expõe um problema crônico no Acre: o descompasso entre o discurso de valorização da agricultura familiar e a realidade enfrentada pelos produtores. Sem a garantia de escoamento da produção, o setor pode entrar em colapso, comprometendo não apenas a economia local, mas também a segurança alimentar.