Por Wanglézio Braga
Um apelo emocionado vindo das entranhas da zona rural de Brasiléia viralizou nas redes sociais e escancarou o abandono de produtores rurais do município. Francisco, conhecido como Bruguela, aparece em um vídeo comovente carregando fardos de milho nas costas, sem qualquer maquinário ou apoio técnico em sua terra. No registro, ele faz um clamor direto ao prefeito Carlinhos do Pelado, aos vereadores e à Secretaria de Agricultura do município: “Tem misericórdia de nós, meus amigos. Venham aqui no Ramal do Porto Carlos, venham ver a nossa realidade”.
Bruguela não economizou palavras ao questionar a destinação de recursos públicos. “Cadê os R$ 4 milhões de reais de maquinário agrícola que ano passado ou retrasado, a prefeitura de Brasiléia recebeu? Estou indignado com as vossas excelências”, disparou o agricultor. O vídeo se espalhou rapidamente em grupos de mensagens e redes sociais, sendo compartilhado por moradores e lideranças que também denunciaram a precariedade da assistência ao setor produtivo rural. Muitos confirmaram as declarações do agricultor.
O OUTRO LADO
A equipe de reportagem tentou contato com a Prefeitura de Brasiléia por meio da secretaria de comunicação, mas não obteve retorno. Procurado na manhã desta sexta-feira (2), o secretário municipal de Produção, Mário Jorge Fiesca, inicialmente disse que não iria se manifestar, mas depois voltou atrás. Em uma fala evasiva e considerada ríspida por interlocutores, Mário declarou: “Não vou me manifestar porque é uma situação em que, pelo início do vídeo dele, a gente vê que a área não tem condições de ser feito o plantio e muito menos a colheita”.
Questionado sobre a ausência de apoio, Mário Jorge culpou o próprio produtor. “Entendo a revolta dele, mas, para ele fazer essa manifestação, deveria nos procurar primeiro”, disse. De maneira hostil, ainda sugeriu à reportagem: “Procure aqueles que nos procuram para saber se estão recebendo incentivo da prefeitura!”.
O tom da declaração oficial gerou ainda mais revolta entre pequenos produtores da região, que alegam nunca terem sido atendidos quando buscam apoio técnico e acesso ao maquinário supostamente adquirido com recursos públicos. Muitos, procurados por nossa reportagem, afirmam que os equipamentos só são utilizados em áreas de aliados “políticos” ou em regiões próximas à sede do município.
Enquanto as máquinas permanecem invisíveis no campo, Francisco Bruguela, como tantos outros produtores, segue colhendo o que planta com as próprias mãos — e, agora, carrega também o peso do descaso de uma gestão que, na prática, tem deixado o produtor rural à própria sorte.
