Por Wanglézio Braga
No meio do tempo seco, quando o céu clareia e o solo racha, os ipês desabrocham e colorem a paisagem da Amazônia com tons de rosa, amarelo e roxo. No Acre, o cenário já pode ser visto no campo e na cidade. Mas além do encanto visual, essas árvores têm um papel importante para quem vive da terra. A floração dos ipês durante o chamado “verão amazônico” é um sinal valioso para o calendário do homem do campo, especialmente no agronegócio.
Segundo o engenheiro agrônomo Hadaméss Wilson, os ipês funcionam como um “relógio natural” que indica o auge da estação seca. “Quando os ipês começam a florar, o produtor sabe que estamos num período ideal para fazer manejo de solo, reparos em pastagens e até mesmo aplicar corretivos como o calcário. É o tempo certo para preparar a terra para a próxima safra”, explicou.
Oo foco neste momento é cuidar das culturas que já estão em andamento. “Agora, nosso trabalho é manter os pés de café irrigados e protegidos. A hora de preparar o solo para o plantio mesmo, deixando tudo pronto, só vai ser lá para meados de setembro, quando o pequeno produtor já pode lançar as primeiras sementes de milho no chão”, explicou. Ele ainda lembra que essa é uma particularidade do calendário agrícola do baixo Acre, enquanto no Juruá, por exemplo, já estão plantando milho nas praias dos rios, culturas bem diferentes entre si.
Hadaméss destaca que, apesar da floração dos ipês sinalizar o período de estiagem, “para nós aqui no baixo Acre, a única cultura que vai dar resultado bom plantando agora é a melancia irrigada”. Isso porque, em outras regiões, como o Juruá, as colheitas acontecem mais próximas ao final da estiagem, aproveitando as condições de água mais favoráveis.
A época de estiagem é estratégica para as atividades do campo, já que o solo mais seco permite o trânsito de maquinário pesado e facilita a conservação de estradas vicinais e ramais, fundamentais para escoar a produção. “Seja na pecuária ou na lavoura, o verão amazônico é hora de investir em infraestrutura rural. Os ipês, de certa forma, anunciam esse momento”, reforça o agrônomo.
Além da função de sinalizadores naturais, os ipês têm raízes profundas que contribuem para a fixação do solo e para a proteção contra a erosão, sendo aliados silenciosos da produção sustentável. “Em meio ao tempo seco e à rotina puxada do campo, eles lembram que a natureza, quando bem interpretada, é uma grande parceira do produtor”.
