Por Correio Online
O Acre está, mais uma vez, no centro de uma rota estratégica que pode redesenhar os caminhos da economia brasileira. Em um acordo histórico firmado nesta semana, o governo federal e a China deram início aos estudos para a implantação de uma ferrovia internacional que ligará o Brasil ao Oceano Pacífico, passando pelo território acreano. O projeto, conhecido como Ferrovia Bioceânica, conecta o porto de Chancay, no Peru, a regiões produtivas do Centro-Oeste brasileiro, com passagem confirmada por Rio Branco, capital do Acre.
A proposta é ambiciosa. Se sair do papel, a ferrovia reduzirá em até 10 mil quilômetros o trajeto de exportação para a Ásia, encurtando o tempo de transporte em até duas semanas. Na prática, isso significa ganhos logísticos imensos para o agronegócio, para a indústria e até para o comércio regional.
Mas o que parecia, até pouco tempo, um sonho distante, agora ganha contornos mais concretos. A assinatura do memorando de entendimento entre a estatal brasileira Infra S.A. e o China Railway Economic and Planning Research Institute marca o primeiro passo oficial para a realização de estudos técnicos, econômicos e ambientais da obra.
O novo papel do Acre na logística sul-americana
O traçado preliminar da ferrovia prevê a passagem por cidades peruanas como Pucallpa e Cusco, cruza a fronteira pelo Acre e segue em direção a Rondônia e Mato Grosso, integrando-se às ferrovias FICO (Integração Centro-Oeste) e FIOL (Oeste-Leste). A escolha da rota inclui o Acre não por acaso. O estado, historicamente isolado das grandes obras de infraestrutura, ganha agora protagonismo em um projeto de escala continental.
“É uma oportunidade que pode transformar a realidade do Acre. Não apenas do ponto de vista econômico, mas de integração nacional e internacional”, avalia um técnico do Ministério dos Transportes envolvido nas discussões.
A expectativa é que o projeto atraia investimentos bilionários, gere empregos diretos e indiretos e impulsione o desenvolvimento de áreas hoje pouco aproveitadas economicamente. Em Rio Branco, o anúncio foi recebido com entusiasmo — e com prudência.
China: peça-chave no tabuleiro
A participação da China não se resume a um aporte financeiro. O país asiático é peça-chave na estratégia geopolítica do projeto. Ao reduzir sua dependência do Canal do Panamá e criar um corredor direto entre o Atlântico e o Pacífico via América do Sul, a China amplia sua influência na região e fortalece laços com o Brasil.
Os próximos meses serão dedicados à elaboração dos estudos de traçado, impacto ambiental, análise de solo e integração com a malha ferroviária já existente. A expectativa, segundo o Ministério dos Transportes, é que o projeto avance nos próximos cinco a oito anos.