Evandro do KM-72: meio século entre seringal e estrada, do pão ao café mais saboroso da BR-364

Por Wanglézio Braga

No KM 72 da BR-364, entre Bujari e Sena Madureira, existe um tempo que não corre. Ali, entre panelas fumegantes, fotografias antigas e telefones de disco, vive Evandro Cardoso, 78 anos, um desses homens que a estrada conhece pelo nome. Filho de Sena Madureira, cidade que já foi capital, ele não apenas viu a abertura da rodovia — ele foi parte da história, testemunha da floresta virando caminho, da lama virando asfalto, da solidão virando parada obrigatória.

Evandro chegou ali quando tudo ainda era mata fechada, um seringal herdado por paulistas e vendido na leva em que o ex-governador Wanderley Dantas incentivava a ocupação do Acre. “A gente andava no pico da estrada, só uma faixa aberta no mato. Era um sofrimento. Três, quatro dias pra ir de Rio Branco até Sena”, lembra ele, com a precisão de quem viveu cada curva. O tempo era de seringueiro, de economia puxada pela borracha, de divergência com fazendeiro. Mas Evandro ficou. Firmou pé. E fez dali morada.

No Lanche, os visitantes podem conhecer um pouco da história do baixo Acre

A floresta viu seus filhos crescerem e partir para estudar. Duas meninas viraram doutoras — uma advogada, outra fisioterapeuta — e os outros filhos escolheram seguir no campo. Quando os tempos mudaram e a seringa perdeu espaço, ele montou um lanche com apoio dos amigos da empresa Lameiras, gente que entendia que quem luta merece ter um balcão pra chamar de seu. O “Lanche do Evandro” nasceu assim: um boteco acolhedor onde o café é forte, a conversa é franca e o tempo parece respeitar quem resistiu.

Hoje, são oito empregos diretos e muitos outros indiretos. Taxistas, freteiros, trabalhadores da BR e moradores da redondeza fazem parada ali para comer as melhores merendas da estrada. Mas o lanche é mais do que comida — é museu de um homem só. Em prateleiras de madeira e paredes decoradas, Evandro exibe rádios antigos, máquinas de datilografar, telefones celulares de todas as eras, fotografias desbotadas, monógrafos e histórias que não cabem num só fôlego.

Evandro fala pouco, mas o olhar entrega tudo: gratidão. “Eu me sinto feliz. Honrado. Fiz amigos. Criei meus filhos. E estou aqui até hoje. A estrada trouxe luz, trouxe escola, trouxe transporte. Trouxe a vida. E eu fiquei”, disse.

Evandro ao lado da filha, que atualmente administra a lanchonete

E ali ele segue. Não porque não tinha pra onde ir, mas porque entendeu cedo que raiz também se planta em beira de estrada. Evandro não é dono apenas de um lanche ou de um pedaço de terra: é dono de um tempo que o progresso não engoliu. Na BR-364, onde muitos só passam, ele decidiu ficar. E ficar, às vezes, é o maior ato de coragem de um homem.

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