Por Wanglézio Braga
Dois produtores rurais ouvidos pelo Portal Acre Mais, Vilmar Rosa e Luís Augusto, manifestaram preocupação com o que o novo sistema de Rastreabilidade Bovina, previsto no Plano Nacional de Identificação de Bovinos e Búfalos (PNIB), pode trazer para a pecuária na Amazônia. Pela nova regra do Ministério da Agricultura (MAPA), os pecuaristas terão até 2032 para se adequar, com a obrigação de identificar individualmente cada animal do rebanho.

Vilmar Rosa, que trabalha com cria de bezerros na região de Rio Branco, foi direto: “Isso vai virar uma cilada para nós da Amazônia. Hoje, a gente vende bezerros para o Centro-Oeste e o Sul. Imagina se amanhã ou depois, por conta de uma crise sanitária ou de exigência da Europa, eles disserem que não querem mais carne de animal nascido na Amazônia? O que eu vou fazer com o meu rebanho? O Mato Grosso pode virar e falar que não compra mais da gente. Quem vai pagar essa conta? O pequeno produtor amazônida como sempre”, alertou.
Luís Augusto também engrossou o coro de insatisfação. Segundo ele, a medida não agrega valor comercial ao gado acreano e só vai gerar mais despesas e burocracia. “A gente já tem o IDAF cuidando da questão sanitária, temos as exigências ambientais, as guias de transporte, o Cadastro Ambiental Rural. Agora vem mais essa obrigação que vai obrigar o produtor a correr atrás de número de identificação, preenchimento de planilhas e mais custo. Quem tem dinheiro contrata técnico, mas e o pequeno? Vai ter que sair da roça pra ir na cidade resolver mais papelada”, reclamou.

O produtor também questionou a real necessidade da rastreabilidade para abrir novos mercados. “Hoje o Brasil já exporta como nunca. Estamos batendo recordes de venda de carne para o mundo todo, inclusive para mercados exigentes. Por que agora essa fixação de numerar animal por animal? Isso vai virar mais uma forma de controlar, burocratizar e tirar dinheiro de quem produz”, disparou.
Os dois produtores dizem que não acreditam em um recuo por parte do governo federal, mesmo com as reclamações de várias entidades representativas da classe produtora. “O Brasil caminha sempre na contramão da liberdade econômica. Em vez de ajudar, cria mais travas. O pequeno produtor da Amazônia, como sempre, vai pagar a conta primeiro”, finalizou Vilmar Rosa.