Por Wanglézio Braga
Era tarde de sexta-feira (16) quando o som dos cascos e dos gritos abafados dos peões substituiu o ronco dos motores. Um trecho da BR-364, cortando o coração de Feijó, deu lugar ao velho ritual da lida: bois, bezerros, vacas marchando, guiados por cinco homens do campo, em tom quase cerimonial. No improviso da estrada esburacada, o asfalto virou pasto e a pressa dos veículos deu passagem à cadência da comitiva.
Caminhões, motos e carros pararam à margem, como se o tempo tivesse sido suspenso. Os animais iam de uma fazenda a outra, sob o comando firme dos vaqueiros, em uma cena que escapa aos olhos urbanos, mas ainda pulsa forte no interior acreano. A poeira levantada pelo gado misturava-se ao céu alaranjado, compondo um quadro que mais lembrava o sertão de outrora do que uma rodovia federal.
Segundo o IDAF, Feijó abriga 1.704 propriedades rurais e um rebanho de 286.293 cabeças de gado — número que explica por que a pecuária ainda ecoa com tanta força por aquelas bandas. A estrada, embora marcada por buracos, também é ponte entre o que foi e o que ainda resiste: a tradição viva da boiada levada na rédea, passo a passo.
Naquela tarde, o moderno curvou-se ao ancestral. A BR-364, tão criticada por sua precariedade, virou palco de uma travessia que não era só de gado, mas de memória. Em Feijó, onde o campo não se dobra ao tempo, o futuro ainda passa pela estrada — em couro, poeira e silêncio.