Por Wanglézio Braga
José Rodrigues conhece o peso da enxada, o cheiro da terra molhada e a alegria simples do açaí colhido no tempo certo. Aos 54 anos, ele nunca imaginou que a roça em Tarauacá um dia renderia um fruto tão digno: uma filha formada em Perícia Criminal. Entre um frete e outro, entre uma negociação de baldes de açaí, ele alimentava em silêncio o sonho que brotava no olhar curioso de Maria Jeniffer, sua única filha mulher.
Ela cresceu vendo a luta dos pais para garantir comida e dignidade. Quando decidiu que queria estudar, o pai não hesitou, nem a mãe, dona Edna Rodrigues. “É diferente da nossa vida, mas a gente apoia”, disse ele, com aquela firmeza de quem planta sabendo que a colheita, mais cedo ou mais tarde, vem. Maria estudou, lutou, venceu. E mesmo sem a presença física dos pais na cerimônia de formatura seu José se fez presente na força que ela carregava no coração.

Legenda: Jeniffer é ovacionada na entrada da cerimônia
Em Rio Branco, enquanto a jovem recebia aplausos e ouvia seu nome ecoar como a única mulher a se formar naquela turma, do interior, seu José vendia mais um litro de açaí. E sorria. Porque, para ele, cada saco de polpa vendido, cada hora de frete, foi um tijolo para aquele diploma. Ele não sabia falar de perícia ou termos técnicos, mas sabia, como todo agricultor, que sem suor não há colheita. E aquela, ali, era a mais doce de todas.
Maria, hoje, trabalha no administrativo da Associação dos Produtores Rurais de Tarauacá (ASPRT), ajudando outros produtores, pecuaristas e agricultores, com sua simpatia e competência. Não esqueceu de onde veio. E talvez esse seja o maior diploma que ela carrega: o de ser filha de um homem simples, de uma mãe batalhadora, que acreditou na educação como caminho para mudar destinos. E mudou.

Legenda: Maria Jeniffer foi a única formanda de Tarauacá no curso
Quem conhece a família afirma que a história da jovem tem sido vista como um exemplo de superação e inspiração para muitos do interior que sonham com uma carreira profissional. Maria Jeniffer é a única da família a conquistar o diploma de ensino superior.
“Ela tomou a iniciativa, e nós só apoiamos. É uma profissão bem diferente da minha, mas a educação é um bem importante para qualquer ser humano”, disse o pai, emocionado. Agora, a expectativa da família é a aprovação da jovem em um concurso público para seguir carreira na área em que se formou.

Legenda: José não foi à formatura, mas plantou para a filha cada passo até o palco
No fim das contas, entre plantios e comercializações, seu José colheu um título que não cabe em moldura, nem precisa de reconhecimento público. Ele colheu o orgulho de ver a filha receber o canudo de formatura. “Nós temos muito, muito orgulho dela. Minha família é um presente divino”, concluiu.