Por Wanglézio Braga
Na BR-317, no KM 72 entre os municípios de Brasiléia e Assis Brasil, um pequeno pedaço de terra esconde uma história de luta, fé e resiliência. Valmir Lima, produtor rural natural do Paraná, escolheu o Acre como novo lar depois de sua família perder tudo para as dívidas bancárias. Hoje, mais de duas décadas depois, ele colhe — literalmente — os frutos de sua coragem: é um dos poucos produtores de jiló da região do Alto Acre.
“Plantar jiló é bom. Quando a gente acerta a plantação, é ótimo. Mas quando erra, é prejuízo na certa”, diz Valmir, com o sotaque já moldado pelos anos de vida acreana. Ele cultiva quase uma hectare exclusivamente com jiló e calcula uma produção anual que varia entre duas toneladas e a três tonelada e meia. “Se a gente cultivar com um adubo bom, traz recompensa. O pessoal aqui gosta muito de jiló. Usa na alimentação, na galinha caipira, no arroz. Ele ajuda em problemas de saúde como baixar a glicemia, por isso é usado por pessoas com diabetes”, afirma.
A produção é feita quase toda de forma familiar, com ajuda esporádica de um filho e muito esforço próprio. ” A ideia de plantar jiló surgiu de uma necessidade de encontrar nas feiras e nos mercados. Quando tinha, naquela época, tudo era muito caro. Daí, resolvi tentar plantar. Deu certo!, hoje sou lembrado como o ‘rapaz do jiló'”, lembrou.
Mas o caminho até esse reconhecimento não foi simples. Sem acesso facilitado a créditos ou políticas públicas específicas para pequenos produtores, Valmir batalhou por anos sem conseguir sequer um espaço fixo em feiras públicas para vender seus produtos.
“Trabalhei anos aqui na Feira de Brasiléia, mas no lugar de outra pessoa que não pode vir. Eu nunca consegui uma banca. Quando eu consigo, aparece alguém que nem trabalha e tira a gente do lugar. É triste”, desabafa.
Mas o jiló não é o único trunfo de Valmir. Ele também produz remédios naturais, como vinho de Jatobá e extratos de Peroba, que, segundo ele, têm feito sucesso com quem sofre de problemas gástricos. “Ajuda no estômago, no rim… é um produto natural que tem ajudado muita gente”, diz com convicção, orgulhoso da sabedoria adquirida ao longo da lida no campo.
Valmir é mais um exemplo do Acre de como a agricultura familiar pode transformar realidades. “Meus filhos já são todos daqui. Sou paranaense de nascimento, mas hoje posso dizer com orgulho: sou um acreano de coração”, conclui, com um sorriso no rosto e a esperança de que dias melhores, com mais apoio e valorização, ainda estão por vir.
