Por Wanglézio Braga
Entre barracas coloridas, o cheiro da terra molhada e o burburinho dos fregueses negociando produtos frescos, duas mulheres constroem suas histórias na Feira do Agricultor Empreendedor de Brasiléia. Dona Geralda Teixeira, de 71 anos, e Maria Ludmilla, de 22, são a prova viva de que a força feminina está presente desde o plantio até a mesa dos consumidores.
Elas representam gerações diferentes, mas com um ponto em comum: o amor e a resistência no trabalho no campo. Enquanto Dona Geralda carrega nos braços a experiência de mais de três décadas lidando com a terra, Maria Ludmilla desponta como a nova geração que mantém viva a tradição agrícola no Acre. No Dia Internacional da Mulher, suas trajetórias mostram que, mesmo diante das dificuldades, a força feminina transforma desafios em sustento, dignidade e futuro.
De Minas ao Acre: a trajetória de Dona Geralda
Nascida em Minas Gerais, Dona Geralda saiu de sua terra natal movida pelo desejo de uma vida melhor. Depois de uma breve passagem por Rondônia, onde a violência a assustou, ela encontrou no Acre o lar definitivo. “Chegamos aqui há 35 anos, sem nada, apenas com a coragem de trabalhar. No começo, andava 25 quilômetros com carga nas costas, junto com minhas quatro filhas”, relembra.
Com o tempo, ela se tornou referência na venda de queijos, ovos, verduras e até galinhas caipiras abatidas. Por anos, levava seus produtos para a Bolívia, onde construiu uma clientela fiel. “Vendi por 15 anos na Bolívia, levava queijo, café torrado, verdura… A gente tinha até contrato para buscar a mercadoria de madrugada”, conta.
Apesar das dificuldades iniciais, ela jamais desistiu. “Hoje, aposentada, continuo vendendo. A feira se tornou parte da minha vida”, diz com um sorriso no rosto. Para ela, a luta da mulher agricultora nunca termina – ela apenas se reinventa.

Maria Ludmilla: a nova geração da agricultura familiar
Do outro lado da feira, uma jovem percorre os corredores com a mesma paixão que moveu Dona Geralda por décadas. Maria Ludmilla, de 22 anos, cresceu entre as barracas e carrega consigo o legado da mãe, que sustentou oito filhos com o trabalho na feira. “Desde pequena, minha mãe já nos levava para cá. Foi aqui que aprendi o valor da terra e do trabalho“, afirma.
A família vive em uma comunidade agrícola onde cada família cultiva uma pequena área. “Trabalhamos principalmente com hortaliças naturais, como alface, cheiro-verde, pimentas, chicória… Tudo feito com muito cuidado”, explica. Além das vendas na feira, Ludmilla também realiza entregas, tornando-se uma referência no comércio de produtos frescos da região.
Mas o peso do trabalho é grande. Sua mãe, hoje com mais de 40 anos, já não aguenta carregar caixas pesadas, e Ludmilla precisou assumir a responsabilidade cedo. “Se eu faltar um dia na feira, parece que falta algo dentro de mim”, confessa. Para ela, a feira não é apenas um espaço de comércio, mas um ambiente de pertencimento, onde mulheres como sua mãe e Dona Geralda fazem a economia girar e alimentam a cidade.

O elo entre passado e futuro
Se há algo que une Dona Geralda e Maria Ludmilla, além do trabalho no campo, é a resiliência. Enquanto a primeira viu a agricultura como um meio de sobrevivência em tempos difíceis, a segunda enxerga nela um caminho para prosperar e inovar.
O Dia Internacional da Mulher reforça a importância de dar visibilidade a histórias como essas. Mulheres agricultoras, muitas vezes invisibilizadas, são responsáveis por grande parte do alimento que chega às mesas dos brasileiros. “Apenas comece”, aconselha Ludmilla às novas gerações que desejam seguir esse caminho.
Dona Geralda, por sua vez, carrega no olhar a satisfação de quem venceu. “No começo foi difícil, mas nunca desisti. Hoje, olho para trás e vejo que valeu a pena”, reflete. E assim, entre sacas de arroz, cheiro de café torrado e galinhas caipiras, a luta feminina segue firme, garantindo que a feira nunca pare e que a força das mulheres do campo continue alimentando sonhos, famílias e cidades inteiras.